Escrever sobre amor é tudo que sei fazer

Maria Morena Gomes
2 min readJan 24, 2024

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Em todos os cadernos, em todos os pedaços soltos de papel, em todo e qualquer canto de livro acho uma citação que me lembra o amor. Amor esse que tem cheiro, gosto, rosto. Que tem suor, saliva, um sorriso. Mas diferente daqueles que falam sobre o dito cujo, não sei escrever poesia.

Caminho com a prosa, no meu jeito travado e reservado, para me escancarar inteira em cada frase. No fim de cada sentença é possível me ver, ver ele: O amor. Tão valorizado em detrimento a outros sentimentos, é valorizado por ser tão único, tão diferente, tão contagiante. Não se vê o amor chegando, como se vê a tristeza mediante a ações alheias. Amor não é consequência de muita coisa, é causa. Eu mesma não vi. Aconteceu logo para mim, que não esperava mais isso por muitos anos.

Escrever sobre amor é tudo que eu sei fazer porque sou completamente coberta por esse sentimento muito quente, que muitas vezes se disfarça de brisa ou então de conversa. Como Morfeu se metamorfoseia tão bem em pessoa, o amor também. Como Morfeu, que abre brecha para os sonhos, o amor também.

O amor torna a prosa tranquila, torna a prosa bonita. Ele te desconcerta, faz perceber que tem coisas que não fazem sentido, faz com que você concorde com os poetas. Até mesmo os mais contemporâneos, que meses atrás não faziam sentido para mim estar em nenhuma lista de mais vendidos. O amor aparece em beijos pela manhã inteira, das oito e meia até a hora de levantar, até meus olhos se abrirem de fato, até meu corpo acordar.

O amor aparece também em um café quentinho sendo feito em uma cozinha que não é minha, em canecas com histórias que são discutidas ao sentar perto do sol para poder fumar enquanto aprecia devagar o gosto. Mas o gosto do amor não é só café. É cerveja também, e garrafas de água no meio disso, só para garantir que tá todo mundo bem, que não tá todo mundo embriagado de amor, como eu estou.

Falar de amor, diferente de escrever, me parece muito difícil, quase impossível, é preciso que o amor sorria para mim só para que eu derrame uma gotinha do que sinto, entre risadas abafadas, concluindo e começando em uma única frase. Falar de amor é difícil porque o cara a cara pede uma certa cumplicidade, essa que demanda muita coragem e, muitas vezes, sou medrosa. Ainda que as respostas que imagino saiam da boca do amor, contagiadas pelo amor, é preciso toda vez superar o frio na barriga de declamar em voz alta que se ama.

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Maria Morena Gomes

Aspirante a jornalista, leitora assídua e escritora um tanto medíocre. @morenagomesg